Vai curtir o Rio de Janeiro no verão? Veja dicas dos hotspots imperdíveis por lá – Foto: Felipe Archer/Unsplash
Por Hermés Galvão
Verão no ar, momento de movimento para nós, cariocas, prepararmos o corpo e a alma para não fazer feio a caminho do mar; mais do que nunca, é hora de fazer valer nosso estado de espírito leve, leviano, libertário e libertino. Mês de se livrar dos quilos extras, das amizades pesadas, dos amores doentios, dos namoros caducos, ao mesmo tempo que, última chamada, é decisivo saber quem e o que levaremos conosco verão e, quem sabe, vida adentro. Sabores, tendências, lugares, pessoas, tudo que não é sólido precisa ser desmanchado no ar para o novo entrar sem bater.
Passamos o ano secos pela estação mais quente do ano, torcendo para que chegue em forma de refrão de bossa nova, para que cantemos e sonhemos acordados com ele em noite de luar sobre o Arpoador. Quando vem, e vem com tudo, implacável como um desabafo de Danuza Leão, as energias se reestabelecem e as esperanças se renovam com a chegada dos amigos expatriados que, estação de migração!, voam para cá trazendo na bagagem histórias e amigos apaixonantes, modas que aderimos e que diluímos (e esquecemos) nas ruas como uma onda no mar. Cidade e povo de energia difusa, é muita água sobre os ânimos que oscilam como ondas, numa volatilidade difícil de acompanhar.
O agito do Surubar – Coquetelaria Popular Brasileira, no hypado bairro da Glória – Foto: Divulgação
Mas é na rua que a vida se revela. Rua é o ponto de encontro do Rio de Janeiro. E o carioca tem uma longa intimidade com ela, e ela com ele. É na rua que nos sentimos em casa e não temos como não sermos vistos em público porque todo lazer do Rio é a céu aberto, ao alcance de qualquer um. Mas criamos um porém: ao percebermos que aquela birosca, a mesma que frequentávamos desde os tempos da escola (mas que só oficializamos na época da faculdade por razões de maioridade), a festinha mais mafuá da zona portuária, o baile da favela e a praia da galera começaram a ganhar adesão de estrangeiros – sejam eles outros brasileiros, gringos ou até cariocas da clara, que só saem da gema da zona sul com van e motorista – partimos dessas para umas melhores sem a menor cerimônia, numa prova cabal de nomadismo boêmio e praiano.
Detalhe da praia de São Conrado – Foto: Divulgação
Acostumados a flanar no compasso da natureza, colocamos na crista da onda lugares de origem e frequência antes pantanosos e, com a mesma velocidade que levamos para o alto, derrubamos com a força de uma ressaca na Barra. E nos sacudindo como vento, às vezes em brisa, ora em sarabanda, e com humores de maré, voamos como os biguás para outros caminhos onde nosso pouso, além de seguro, é sagrado e secreto.
Redescobrimos ou reinventamos bares, ruas, restaurantes, forrós, festas juninas, blocos, bailes de carnaval e até bairros inteiros que sempre estiveram lá – não precisamos criar roteiros sobre o nada, a nossa própria história em sociedade (somos urbanos desde a chegada da família real portuguesa), segue cambaleante rumo à tradição e ainda se apresenta viva, mesmo que decadente, e sempre à espera de uma reprise. Tem que conhecer a cidade, suas vielas e até mazelas para saber para onde ir e, claro, quando.
O Labuta Mar, na Glória, especializado em frutos do mar – Foto: Divulgação
O movimento é randômico, cíclico e, por que não, ciclotímico, mas frequente, num ritmo que talvez tenha se tornado incompreensível ao passo apressado dos outros. Como em Lisboa, Roma e Paris, pulsam nas esquinas e ladeiras do Rio um desejo, quase dever, de tomar a rua de assalto (no bom sentido, por favor) e mantê-la a salvo da virtualidade das relações de agora, que fogem do corpo a corpo e do olho no olho como quem foge da verdade. A rua, para o carioca, ainda é o palco dos flertes, das conversas jogadas fora, dos acertos de conta, dos encontros à mesa onde nascem sambas e combinam-se viagens que talvez um dia jamais aconteçam. Nem tudo que se ouve deve ser levado a sério, nem todo mundo que se vê deve ser levado para a cama: simples assim.
Em nossa democracia vadia, deixamos para trás o que é novidade para quem veio depois e assim seguimos rumo ao surpreendente até o dia em que outros virão para conferir – aí é hora de partir de novo. Vem chegando o verão, já diria nossa musa de outras épocas que nunca mais pintou no Leblon… mas a gente ainda acha que o Hotel Marina quando acende é para ela.
It-points do verão 2025
Surubar, Coqueteleria Popular Brasileira
A cultura do boteco encontra aqui a sua melhor tradução. Batidas, caipirinhas e, claro, friturinhas para acompanhar a bebedeira. Best-sellers: risole de língua e o suburbano ovo colorido de codorna.
1 / 2Uma das delícias do balcão do Isca, o tartar de camarão e polvo – Foto: Divulgação
2 / 2O Isca tem bons pintxos, drinks e vinhos – Foto: Divulgação
Isca
Cariocas e espanhóis são almas gêmeas no quesito boemia, basta ouvir a gritaria em qualquer bar de San Sebastián a São Sebastião do Rio de Janeiro. Aqui, pintxos de toda la vida caem como uma luva de passista no chopinho gelado.
1 / 2Na Fatchia Pizza, o menu tem, além das fatias quadradas, uma curadoria de músicas do mundo inteiro para ver e ouvir lá mesmo – Foto: Divulgação
2 / 2Na Fatchia Pizza, o menu tem, além das fatias quadradas, uma curadoria de músicas do mundo inteiro para ver e ouvir lá mesmo – Foto: Divulgação
Fatchia
Conversa fiada que carioca é assassino de pizzas. Na Fatchia, ela é servida em pedaços quadrados para descer nas noites redondas animadas por DJs. Vale tudo, até margarita com margherita.
A praia de São Conrado (na foto) e o bairro da Glória estão em alta – Foto: Rodrigo Castro/Unsplash
Praia de São Conrado
O point da geração sanduíche natural dos anos 80 está de volta, desta vez com a turma mais instagramável e os surfistas mais charmosos do pedaço.