Políticas afirmativas para promover a inclusão na educação infantil

Políticas afirmativas para promover a inclusão na educação infantil

Apesar do prestígio acadêmico, colégios frequentemente falham em incluir alunos bolsistas. Políticas afirmativas são essenciais para transformar esses ambientes em espaços diversos

Por Helena Gomes

Os colégios de elite em São Paulo são tradicionalmente associados a uma educação de alta qualidade e oportunidades exclusivas, mas também perpetuam desigualdades sociais e preconceitos. Essas instituições, frequentadas majoritariamente por alunos de classes privilegiadas, repetidamente falham em promover uma inclusão genuína, especialmente no caso de alunos bolsistas. Apesar do discurso meritocrático, muitos desses estudantes convivem com discriminações veladas, preconceitos sociais e uma segregação que reforça as diferenças econômicas dentro da própria escola.

Em agosto de 2024, a morte trágica de um aluno do Colégio Bandeirantes expôs uma ferida profunda no sistema educacional. O jovem sofria intensa pressão, sentindo-se inferiorizado em um ambiente onde as oportunidades, aparentemente iguais, não resultavam em verdadeira inclusão. A cientista social Liliane Barbosa, formada pela Unicamp, destaca a necessidade de repensar o papel da educação nesses contextos. “A experiência escolar, que deveria ser um lugar de construção de identidade e igualdade de chances, acaba reforçando estigmas que marcam profundamente a vida desses jovens”, afirma.

Casos como o do Colégio Visconde de Porto Seguro também evidenciam a segregação entre alunos. Relatos de salas de aula separadas para bolsistas e pagantes reforçam uma cultura de exclusão. Essa divisão cria uma linha sutil, mas constante, de diferenciação, onde alunos de classes sociais menos favorecidas são lembrados de sua “condição” por olhares e pela separação física nas áreas comuns.

Foto Stick Lemon/ Divulgação

Embora esses colégios ofereçam uma educação de ponta, a questão permanece: quais são os critérios para a entrada de alunos? Rodrigo Fernandes, pai de Isaque, de seis anos, desistiu de matricular o filho num colégio badalado após passar por um processo seletivo humilhante. “Tenho certeza de que seria nocivo para o meu filho em algum momento”, explica. Quando a escola não está preparada para lidar com a diversidade, as consequências para os alunos podem ser graves.

A convivência entre bolsistas e pagantes, que deveria promover diversidade e inclusão, muitas vezes acentua disparidades sociais. Esses estudantes enfrentam preconceitos velados devido à maneira como se vestem, sua origem social ou as barreiras financeiras que os impedem de participar de atividades extracurriculares, como viagens e festas. No momento em que crianças e adolescentes são inseridos nessas instituições sem o acompanhamento adequado, cenários de violência acabam sendo potencializados e até normalizados – inclusive pela própria escola.

É crucial que essas instituições adotem políticas afirmativas em diversos níveis. Léo Bento, especialista em relações raciais e consultor de diversidade, equidade e inclusão da empresa Inaperê, acredita que o acesso de bolsistas possa provocar uma mudança social, não apenas no ambiente escolar, mas também na comunidade. “Convivendo com os bolsistas, amplia-se a diversidade e a capacidade de enxergar o mundo sob novas perspectivas – não apenas pela ótica privilegiada”, explica.

Além disso, as escolas devem implementar um letramento racial abrangente, capacitando a comunidade escolar para uma educação antirracista. Segundo Léo, isso inclui a gestão escolar entendendo a organização racial da sociedade e o seu impacto social, além de preparar educadores para ministrar aulas com uma perspectiva diversa, que vá além do eurocentrismo. Combater o racismo recreativo, abordando diretamente as famílias, é igualmente necessário para desconstruir o mito da democracia racial no Brasil.

Léo também sugere a criação de comissões antirracistas para discutir e prevenir a naturalização da discriminação. Políticas de contratação afirmativa são fundamentais para que crianças vejam diversidade em cargos de destaque, como professores e gestores, assegurando decisões mais sensíveis à realidade racial. “A revisão curricular deve valorizar as culturas africanas, a presença de cientistas negros e negras, e a implementação das leis 10.639 e 11.645, que promovem o ensino positivo da história afro-brasileira e indígena em sala de aula”, reforça.  “É urgente que esses colégios implementem um protocolo de medidas para combater o racismo, a homofobia, a misoginia, o antissemitismo, a intolerância religiosa e todo o tipo de preconceito dentro do contexto escolar”, finaliza.

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