O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já afirmou que considera as tarifas brasileiras excessivas sobre os produtos americanos. Por isso, à medida que o republicano avança com seu plano de taxação das importações na fronteira, o Brasil acende um sinal de alerta para possíveis cobranças adicionais no futuro.
Kevin Hassett, presidente do Conselho de Políticas Econômicas de Trump, afirmou que uma das alternativas estudadas pelo governo é “equiparar” as tarifas aplicadas entre os países, por meio da chamada Reciprocal Tariff Act. Nesse cenário, as tarifas sobre os produtos brasileiros poderiam aumentar significativamente, já que o Brasil impõe uma tarifa média de 11,2% sobre os produtos americanos, enquanto os Estados Unidos cobram, em média, 1,5% sobre os itens brasileiros.
Diante de novas taxações, setores como siderurgia, combustíveis e aviação podem ser mais afetados, segundo analistas do Itaú. O aço, por exemplo, já foi alvo de tarifas americanas em 2018 – mas as taxas foram convertidas em cotas de importação e, posteriormente, reduzidas em 2020. Outros itens, como alimentos, devem ser taxados em um segundo momento, já que devem causar um impacto maior na inflação do consumidor americano.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2024, as exportações brasileiras para o país somaram 40,3 bilhões de dólares, ou 12% do total exportado, enquanto as importações de produtos americanos alcançaram 40,6 bilhões de dólares – 15,5% do total.
Por isso, caso implementadas, as tarifas podem afetar diretamente setores estratégicos do Brasil, reduzindo a competitividade dos produtos nacionais no mercado americano. A siderurgia deve ser um dos segmentos mais impactados, já que os EUA são o destino de cerca de 50% das exportações brasileiras de aço. Analistas da XP também destacam aeronaves e peças, máquinas e equipamentos especializados para determinadas indústrias (como engenharia civil) e minerais não metálicos, especialmente cal, como os setores mais vulneráveis a possíveis aumentos nas tarifas de importação.
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Por outro lado, os analistas avaliam que, do ponto de vista macroeconômico, o impacto deve ser limitado, já que as exportações para os EUA representam uma parcela relativamente pequena do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro – as exportações totais do Brasil correspondem a aproximadamente 18% do PIB, sendo que as vendas externas para os Estados Unidos respondem por 12% desse total. “Avaliamos que eventuais restrições comerciais teriam impacto mais setorial do que ampliado”, diz o relatório da XP.
Oportunidades
Para além das ameaças comerciais, o Brasil pode encontrar algumas oportunidades em um cenário com as fronteiras dos Estados Unidos mais fechadas para outros países. Isso porque, se as barreiras comerciais avançarem, os EUA podem perder espaço no mercado chinês, abrindo caminho para os produtos brasileiros. Esse cenário não é inédito: algo semelhante ocorreu durante a guerra comercial de 2018 a 2020, no primeiro mandato de Trump, quando o republicano também adotou uma postura protecionista na economia.
Mas, agora, o potencial de ganho é menor do que naquela época, já que o Brasil já não possui mais tanto espaço para crescer suas exportações nos setores que devem ser mais afetados pela taxação. Atualmente, por exemplo, cerca de 70% das importações chinesas de soja já são brasileiras. No caso do milho, o Brasil já fornece 45% das importações chinesas – e, além disso, o grande estoque do produto na China pode reduzir a demanda.
“O atual contexto sugere um balanço de riscos assimétrico para o lado negativo para o Brasil, uma vez que os riscos positivos parecem mais limitados do que em 2018, e o risco de novas tarifas sobre as exportações brasileiras vem crescendo”, avaliam os analistas Igor Barreto e Julia Marasca, em relatório do Itaú.
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