Hotel de Russie guarda o jardim mais surpreendente de Roma

Hotel de Russie guarda o jardim mais surpreendente de Roma

Jardim das delícias no Hotel de Russie: laranjeiras carregadas, gazebo de vidro e janelas com vistas incríveis de Roma (FBrasiliense/Arquivo pessoal)

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Eram 10 da manhã e, ainda que estivesse grogue por conta das 11 horas de voo, não queria me entregar. Eu estava preenchendo uma lacuna, na verdade um abismo, na minha lista de destinos visitados: já tinha estado em boa parte da Sicília, da Puglia, em Milão, mas nunca em Roma, até aquele momento. E eu tinha ido parar no melhor hotel da cidade, a um pulo da Piazza del Poppolo.

O Hotel de Russie tem uma fachada discreta e ninguém diz que atrás daquelas portas de vidro automáticas se encontra o hotel mais surpreendente da capital italiana. Surpreendente porque guarda um jardim secreto. Um jardim que no passado foi uma coisa só com o Monte Pinciano, ante-sala da Villa Borghese, a área verde mais elegante da cidade e que fica atrás do hotel – uma visita ao terraço do Pincio, de onde se tem panorâmicas incríveis do monumento Vittoriano e da Basílica de São Pedro, é obrigatória.

Flores, ciprestes, ervas aromáticas e clima de escapismo no jardim secreto do De Russie (RF/Divulgação)

Ao passar pelo hall do De Russie, uma porta de vidro dá acesso a um pátio interno onde fica o bar Stravinskij, repleto de mesas e guarda-sóis. Logo atrás, uma linda escadaria antecede um gazebo de vidro, montado apenas nos meses mais frios, que àquela hora da manhã recebia hóspedes para a colazione. Atrás e no entorno do gazebo, limoeiros, laranjeiras, flores e, após mais um lance de escadas, uma pequena cascata – sim, uma cascata em pleno centro de Roma. O que não exatamente destoa se considerar que a cidade tem mais de 2500 fontes que jorram água incessantemente, sendo que 200 delas, os chamados nasoni (ou narigões), ficam espalhadas pelo centro histórico e são os maiores aliados dos turistas e suas garrafinhas. 

Tudo naquela manhã de novembro corria na mais absoluta anormalidade quando de repente, vonn… aviões rasgaram os céus acima do hotel deixando um rastro de fumaça nas cores verde, branco e vermelho. Eram 9 aviões. E, passados mais alguns minutos, vonn outra vez: os caças voltaram riscando novamente o céu com as cores da bandeira da Itália, mas dessa vez o rasante foi ainda mais baixo, a ponto do som dos motores me deixarem de perna bamba. Por sorte eu tinha o celular na mão e fiz o registro. Sem saber, eu acabava de testemunhar uma apresentação da Frecce Tricolori, o famoso esquadrão acrobático da força aérea italiana, que fazia uma demonstração naquele 4 de novembro para comemorar o fim da Primeira Guerra Mundial. A data marca a assinatura do Armistício de Villa Giusti, de 1918, que encerrou os combates no nordeste italiano e permitiu que o país fosse reunificado novamente.

Frecce Tricolori sobrevoa o centro histórico de Roma: dia certo, na hora certa (FBrasiliense/Arquivo pessoal)

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Fui tomado por aquela sensação de “lugar certo, na hora certa”. O lugar, como já disse, é o melhor que há em Roma. O hotel está em uma das extremidades da via del Babuino, nas franjas da Piazza del Popolo, que junto com outras três vias do centro histórico – a via del Corso e a via Ripetta – formam o chamado tridente das ruas mais bonitas e importantes da capital. As três se tornaram percursos fundamentais por serem percorridas ao longo dos séculos por peregrinos a caminho da Basílica de São Pedro. Natural que ao longo dos anos surgissem hospedarias e outros empreendimentos, tanto que hoje elas seguem sendo as três artérias comerciais mais importantes da cidade.

Foi o arquiteto Giuseppe Valadier quem construiu o atual De Russie, que ao ser erguido nas primeiras décadas do século 19 ganhou o nome de Palazzo Lucernari. Ao projetar o edifício, Valadier contemplou também o redesenho da Piazza del Popolo e sua ligação com o Pincio, que se tornou o primeiro jardim público de Roma. Valadier desenhou minuciosamente o jardim do hotel, com sua sequência de terraços, balaustradas e rampas, num continuum de plantas, flores, grutas, fontes e ninfeus. O jardim hoje é muito parecido com o projeto original e ali são cultivadas violetas, romãs, laranjeiras, jasmins, viburnos, murtas, ciprestes, rosas, alecrim.

Mesas espalhadas no pátio interno com escadaria ao fundo que leva ao jardim (RF/Divulgação)

Hóspedes ilustres? Obviamente! Em 1917, Pablo Picasso e o escritor Jean Cocteau passaram uma temporada no hotel e por lá criaram os cenários do balé Parade, com música de Erik Satie, espetáculo que estreou em Paris e rompeu com o classicismo europeu na dança e que, anos depois, seria considerado como uma das obras seminais do surrealismo. Em uma carta para a mãe, Cocteau escreveu: “É o paraíso na terra. O hotel fica em um jardim que se eleva e domina Roma. E eu ainda colho laranjas da janela”.

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Quarto superior com vista para o pátio interno (RF/Divulgação)

Na década de 1950, o hotel passou a sediar os estúdios da RAI, a rádio pública italiana, até que em 1999 o edifício foi comprado pelo grupo hoteleiro Rocco Forte que realizou um trabalho minucioso de ampliação e restauro. As 120 suítes estão entre as maiores da categoria, algumas possuem terraços fantásticos e são verdadeiros apartamentos. O café da manhã é um acontecimento no aconchegante restaurante Le Jardin, que traz no bufê queijos, embutidos e conservas variadas como alcachofra, anchova e beringela. Outro lugar que merece destaque é o spa de 600m² com salas de massagens, piscina de hidroterapia, sauna e banho turco.

Le Jardin: o clima do jardim adentra o restaurante (RF/Divulgação)

O coração do hotel, no entanto, é o bar Stravinskij, aquele que fica a poucos passos da entrada. Mesmo que você não seja um hóspede, vale visitá-lo como pretexto para conhecer o jardim, tomar um aperitivo no fim de tarde e curtir momentos de uma dolce vita.

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Diárias a partir de € 1.247; reserve aqui.

Piscina de hidroterapia no spa (RF/Divulgação)

Vaticano para bem poucos

O De Russie possui uma equipe de concierges afinadíssima capaz de organizar passeios que vão totalmente na contramão do fluxo cada vez mais insano de turistas em Roma. O passeio mais exclusivo organizado pelo hotel é a visita ao Museus do Vaticano antes da abertura para o público. O fascinante é poder acompanhar Gianni Crea, o claviggero, ou guardião das chaves, que a cada manhã a partir das 6h percorre os cerca de 7 quilômetros do museu com molhos contendo centenas de chaves. No passeio, Gianni vai indicando para quem participa do passeio qual chave abre portões monumentais e qual interruptor acende as luzes da Galeria dos Mapas. É de  cair para trás. O ponto alto? Abrir a porta da Capela Sistina! É o tour mais fantástico de Roma. O hotel agiliza o passeio junto ao Vaticano, mas a plataforma Get your Guide também vende para o público em geral por 350 euros por pessoa. Outros passeios que o hotel organiza são tours com carros antigos, passando pelo Monte Gianicolo, onde foi gravada a primeira cena do filme A Grande Beleza, e também passeios pelo centro histórico passando por lojas antigas e escondidas que são verdadeiros gabinetes de curiosidades.

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