O Homo erectus, uma dos nossos ancestrais mais emblemáticos, revelou-se um mestre da adaptação, desafiando condições ambientais extremas há mais de um milhão de anos. Um estudo recente publicado na Communications Earth & Environment apresentou evidências de que a espécie foi capaz de prosperar em paisagens desérticas e hiperáridas na África Oriental, muito antes do surgimento do Homo sapiens, tidos como pioneiros na ocupação de ambientes hostis.
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As investigações aconteceram no sítio arqueológico de Engaji Nanyori, localizado no desfiladeiro de Oldupai, na Tanzânia e as análises combinaram dados arqueológicos, geológicos e paleoclimáticos, reconstruindo um ambiente semidesértico que existiu entre 1,2 milhão e 1 milhão de anos atrás.
Esse ecossistema era caracterizado por vegetação esparsa e fontes limitadas de água doce. Apesar dessas adversidades, o Homo erectus demonstrou uma notável resiliência ecológica, ocupando repetidamente áreas próximas a rios e lagoas. Esses locais serviam como pontos focais ecológicos, permitindo a sobrevivência em meio à escassez de recursos.
Ferramentas e Adaptações Comportamentais
Um aspecto crucial dessa adaptação foi o desenvolvimento de ferramentas de pedra especializadas. Raspadores e ferramentas denticuladas, por exemplo, foram criados para aumentar a eficiência no processamento de carcaças animais, facilitando a obtenção de nutrientes em um ambiente onde os recursos eram escassos.
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“Agora extinto, o Homo erectus existiu por mais de 1,5 milhão de anos, o que o marca como um sucesso de sobrevivência da espécie na história da evolução humana, quando comparado com nossa própria existência estimada de cerca de 300.000 anos até o momento”, disse em nota Michael Petraglia, um dos autores do estudo.
As descobertas contradizem a hipótese de que apenas o Homo sapiens possuía a capacidade de se adaptar a ambientes extremos, como desertos ou florestas tropicais. “Tradicionalmente, apenas o Homo sapiens era considerado capaz de ocupação sustentada em tais ecossistemas, com os hominídeos arcaicos vistos como restritos a áreas mais estreitas”, explicou o Dr. Abel Shikoni, da Universidade de Dodoma, na Tanzânia, que também participou da pesquisa.
A combinação de flexibilidade comportamental e técnica permitiu ao Homo erectus transcender fronteiras ambientais, expandindo seu alcance para regiões áridas da África e da Eurásia. Este perfil adaptativo desafia suposições sobre os limites de dispersão dos primeiros hominídeos e posiciona o Homo erectus como um generalista versátil e o primeiro hominínio a transcender as fronteiras ambientais em escala global. As descobertas demonstram as capacidades intelectuais do Homo erectus e refletem a complexidade e a criatividade de nossos ancestrais na superação de desafios.
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