Guto Requena e seu apartamento com natureza high-tech

Guto Requena e seu apartamento com natureza high-tech

O arquiteto divide o lar com dois galgos, Amália (foto) e Cazuza – Foto: Fran Parente

Por Orlando Margarido 

A água filtrada ainda se obtém girando uma das torneiras da cozinha. Assim como a comida dos cães, os galgos Amália e Cazuza, é o dono que serve. Mas as trepadeiras que recobrem os 150 metros quadrados, da área social e da suíte principal não precisam ser aguadas. Uma estrutura impressionante embutida no teto dá conta das plantas lágrima-de-cristo e jiboias e logo chama a atenção no apartamento do arquiteto, designer e professor Guto Requena, no bairro paulistano de Santa Cecília. Ali, o analógico foi superado em muitas tarefas cotidianas, e provavelmente a residência é hoje uma das mais tecnológica do País. “Há dois quilômetros de cabo aqui, não consigo imaginar outra casa igual no Brasil”, diz Requena. E isso não significa ostentação. “Eu tinha que testar muitas coisas aqui antes de executá-las para clientes.”

Até agora, deu tudo certo, festeja o futuro doutor da Universidade de Sorbonne, em Paris, onde dá aulas duas vezes por ano e segue com estudos sobre a inovação tecnológica aliada à arquitetura. O interesse no tema vem, ao menos, desde a formação na FAU/USP de São Carlos, em 2003, e Guto decidiu que a nova casa seria um laboratório de seu pensamento sobre o ofício. Por coincidência, o imóvel, onde está há dois anos, o impactou ainda estudante, durante uma visita organizada pela faculdade ao edifício projetado pela dupla Botti Rubin nos anos 60. “Foi um achado casual que tem a ver com meus ideais”, aponta. “Ele me deu a chance de aliar novos rumos da área com um interior acolhedor, de referências afetivas e muita brasilidade; tudo isso em um prédio de arquitetura brutalista.” Uma regra básica que orienta os projetos de seu estúdio, aberto em 2008, valeu ali também. Guto defende eliminar a tradicional divisão familiar de moradias, o que inclui pôr paredes abaixo.

O quarto com uma estética vintage – Foto: Fran Parente

Isso foi feito ao unir o enorme living à suíte principal, que pode desaparecer atrás das portas de vidro e do painel blackout articuláveis nos momentos em que ele e o companheiro recebem amigos. O ambiente íntimo se complementa por um closet e é acessível também por um corredor interno, no mesmo bloco onde fica a segunda suíte, único setor preservado aos olhos. A cozinha, se não chega a ser aberta ao núcleo social, só é separada por uma porta de correr. Para dar unidade ao projeto, o dono adotou um piso rústico de cerâmica e um elegante revestimento de sucupira, com um detalhe mais uma vez alcançado pela tecnologia. Os desenhos geométricos gravados na madeira, inspirados nos traços originais dos brises da fachada de janelões do prédio, foram realizados por impressão em 3D. Com tal apelo high-tech, pode-se supor uma preferência pela ambientação minimalista, clean, com mobiliário moderno. Este até surge no canto da TV e do cinema caseiro, mas, de novo, a madeira dá as ordens no restante e o contraste atua.

O coração do living: obra de Vivian Caccuri, sofá Micasa, mesa de centro de Ronald Sasson e o assento Delírios, de Guto, ao lado da poltrona Jangada, de Jean Gillon – Foto: Fran Parente

A comodidade de acionar pela voz os eletrônicos da casa convive com a tendência modernista do mobiliário, inclusive com peças autorais de Guto. Exemplos são o espantoso bufê com acabamento em linhas curvas – batizado de Atração e mais um item saído do computador – e um assento estofado de encaixes, chamado Delírios. Este faz par com uma original poltrona Tijuca, de Jean Gillon, junto à mesa de centro de Ronald Sasson. Na sala de jantar, a mesa de Jacqueline Terpins se soma a uma variedade de cadeiras de design, assinadas por nomes como Lina Bo Bardi e a jovem Fernanda Barretto. Em direção à suíte, efetivando o preceito de convívio sem divisões, uma mesa de escritório e móveis funcionais fazem as honras para eventuais reuniões profissionais. A integração, Guto reconhece, o limitou quanto a obras de arte. Elas surgem pontuais na fotografia de Berna Reale e no trabalho em tecido de Vivian Caccuri, na ala social, junto a cerâmicas e objetos indígenas no hall de circulação, que se presta à biblioteca também. Tudo coerente com seu propósito. “Convivência é o que precisamos em uma sociedade atual tão individualizada. Quero mostrar que, ao menos em casa, podemos ter isso de volta.”

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