Na primeira reunião ministerial de 2025, o presidente Lula determinou que cada ação normativa do governo terá de passar pelo crivo de ministros do Palácio do Planalto, como Rui Costa (Casa Civil) e Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação Social), antes de ser divulgada e entrar em vigor. “Daqui para frente, nenhum ministro vai poder fazer uma portaria que depois crie confusão para nós sem que passe pela Presidência através da Casa Civil. Muitas vezes a gente pensa que não é nada, faz uma portaria qualquer e depois arrebenta e cai na Presidência da República”, disse Lula.
A inspiração para a determinação presidencial é o maior revés sofrido pelo governo em termos políticos e de imagem: o caso da norma da Receita Federal sobre o monitoramento de transações financeiras feitas por meio do Pix. Durante dias, a oposição difundiu nas redes sociais a tese de que, a partir da implantação da norma, haveria taxação do Pix e uma ofensiva do Leão sobre empreendedores e pequenos empresários. Como de costume, o governo ficou inerte inicialmente, permitindo que a narrativa dos adversários viralizasse de forma avassaladora. Só um vídeo do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre o assunto superou a marca de 300 milhões de visualizações.
Tamanho do estrago
Uma pesquisa da Quaest mostrou que 88% dos entrevistados souberam do debate sobre mudanças nas regras do Pix e que 87% ouviram falar que o governo planejava taxar o mecanismo. Só quando o estrago estava feito, os governistas resolveram reagir. Por orientação de Sidônio Palmeira, que estreou no cargo em meio a esse teste de fogo, Lula gravou um vídeo para negar que seria criado o novo tributo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seguiu a mesma recomendação. De nada adiantou.
Cada vez mais nas cordas, o Planalto anunciou uma medida provisória para formalizar que o Pix não será taxado. Mesmo assim, 67% dos entrevistados pela Quaest acham que o imposto ainda pode sair do papel, num sinal de que a palavra do governo perdeu valor. Na reunião ministerial, vários participantes se mostraram surpresos e até assustados com o fato de diferentes manifestações, como os vídeos de Lula e Haddad e os esclarecimentos oficiais da Receita, não terem detido a bola de neve. “É óbvio que a gente precisa recuperar a credibilidade. Estão tentando cunhar a imagem de que o governo só pensa em tachar, e estão conseguindo”, disse a VEJA um ministro.
Diretor da Quaest, o cientista política Felipe Nunes alega que as idas e vindas do governo na área de comunicação, como ocorreu nos casos da taxa das blusinhas e do pacote fiscal anunciado no fim do ano passado, contribuem para que a gestão Lula não passe confiança ao eleitorado. “Ambos sinalizam, de formas diferentes, que o governo não sabe o que está fazendo. É como se revelasse insegurança. E o resultado acaba sendo mais desconfiança. Ou seja, a crise do governo hoje é de credibilidade.”
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