Por Caroline Campos
Quando você pensa em um cientista, provavelmente vem à mente uma imagem de alguém mais velho, com décadas de experiência em um laboratório e cercado de diversas fórmulas. Mas esse não é o caso do cientista que está prestes a deixar uma marca definitiva no mundo – e até mesmo nisso ele foi inovador.
Aos 15 anos, o jovem etíope Heman Bekele, surgiu como uma exceção notável, provando que as grandes ideias podem brotar nos lugares mais inesperados – como a mente de um adolescente do ensino médio, contrariando a máxima de que a inovação vem dos laboratórios high-techs e pesquisadores tarimbados.
Em 2023, o primeiro projeto de Bekele surpreendeu a comunidade científica, quando ele ganhou o concurso 3M Young Scientist Challenge, destinado a jovens no mundo das pesquisas. Sua contribuição? Um sabonete que promete ser uma arma poderosa na prevenção e no tratamento de diversos tipos de cânceres de pele. O projeto também lhe rendeu o título de “The Kid of the Year”, de 2024, ofertado por uma tradicional revista norte-americana.
Filho de imigrantes de Addis Abeba, capital da Etiópia, Bekele cresceu em um lar que valorizava a educação e incentivava a curiosidade. O interesse pelo mundo da ciência surgiu em forma de brincadeira, desde pequeno já se atentava às “misturas mágicas” dos mais diversos elementos e ingredientes cotidianos. Mas foi após ganhar um kit de química dos pais, ainda aos sete anos, que a paixão pela ciência aumentou – e, desde então, a brincadeira se tornou conversa (e invenção) de gente grande.
Suas origens exerceram forte influência no seu norte científico. As memórias de pessoas sempre expostas ao sol escaldante típico do país natal, e as constantes orientações dos pais sobre a importância de proteger a pele dos perigos da radiação ultravioleta foram marcantes na biografia de Bekele. Tão marcantes, que parte dele cresceu se perguntando como poderia ajudar, e então as duas paixões se uniram, nascendo a ideia de idealizar um sabonete como aliado acessível para todos, principalmente para aqueles constantemente expostos em áreas rurais.
A escolha pelo formato veio da praticidade de incluir a fórmula em algo que já é utilizado na rotina das pessoas, descomplicando ao máximo a proteção. A execução, no entanto, não foi tão simples, e exigiu uma longa pesquisa até chegar à nanopartícula feita à base de lipídios que permanecerá na pele com os compostos ativos de proteção e tratamento, mesmo após o enxágue. E a ideia é tão promissora que não apenas garantiu a Heman um lugarzinho entre os bambas da ciência contemporânea, mas, também, um prêmio de 25 mil dólares e contatos de toda uma comunidade que aposta no projeto e que o ajudarão no percurso.
Claro, o caminho entre uma invenção tão promissora e um tratamento aprovado é longo e repleto de desafios. A produção ainda precisa passar por extensos testes clínicos e aprovações regulatórias antes de finalmente chegar às prateleiras das farmácias. No entanto, a determinação do pequeno grande cientista é evidente, e ele ainda tem o ativo mais importante em suas mãos: o tempo e a sede de impactar o mundo.
O potencial do trabalho de Heman também vai muito além do tratamento do câncer de pele, em um mundo que enfrenta desafios cada vez mais intrincados, com mudanças climáticas a pandemias globais, talvez precisemos mais do que nunca da criatividade sem amarras e da audácia característica da nossa juventude.
Enquanto o mundo científico aguarda o que mais esse prodígio pode alcançar, o jovem mantém os pés no chão. O seu foco agora está em aperfeiçoar a sua invenção, mas ele também não descarta a possibilidade de expandir o trabalho para outras áreas. Até que isso aconteça, uma coisa é certa: o futuro da ciência parece mais promissor com mentes como a de Bekele, em um legado que ainda está sendo escrito, mas que já serve como inspiração para entusiastas da ciência. Ele nos lembra que a idade é apenas um número e que, com paixão e dedicação, até mesmo os sonhos mais audaciosos de uma brincadeira de criança podem se tornar realidade.