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A. T. Cholerton, um renomado jornalista inglês, certa vez afirmou que “tudo era verdade, menos os fatos”. Essa observação irônica e perspicaz ecoa no Brasil atual, onde narrativas distorcidas frequentemente obscurecem a realidade, dificultando a compreensão dos desafios que enfrentamos. Vamos aos fatos.
O desemprego está em seu menor patamar em anos, o crescimento em 2024 será significativo e houve melhorias na distribuição de renda. Porém, o país queimou reservas internacionais devido à aguda perda de credibilidade na condução da política econômica. Cruelmente, as boas notícias ficaram no passado, enquanto as decisões sobre gastar e investir são tomadas com base em expectativas agora contaminadas por incertezas.
Se o governo tivesse adotado uma postura mais firme na questão fiscal e evitado declarações desastrosas, poderíamos ter iniciado o ano com um horizonte mais promissor, sustentado pelos resultados positivos do ano anterior. No entanto, a equipe econômica parece isolada, sem respaldo político e incapaz de convencer que a fragilidade fiscal pode comprometer o governo como um todo.
O Brasil enfrenta três cenários potenciais. O pior seria uma perda total de credibilidade fiscal, com o dólar ultrapassando os 7 reais, agravando inflação e juros. Um cenário intermediário manteria o atual ambiente de instabilidade. O cenário mais positivo dependeria de ações fiscais contundentes, melhor comunicação do governo e revitalização de uma equipe econômica sob severos questionamentos internos e externos.
Comunicar, insisto, não é apenas gastar em publicidade. É dialogar, ouvir e construir uma narrativa consistente de credibilidade. É abandonar o deslumbramento que setores do governo ainda demonstram com o poder e priorizar o que realmente importa: estabilidade e confiança. Para reverter as expectativas, algumas questões cruciais precisam ser respondidas com sinceridade.
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“Parece que o país caminha para um cenário de mediocridade, insistindo em medidas paliativas”
O governo cortará mais despesas? O Congresso aprovará ajustes fiscais? Uma reforma ministerial dará mais unidade ao Executivo? O governo dialogará mais com agentes econômicos? Declarações “lacradoras” serão arquivadas? A reflexão sobre essas perguntas é desanimadora. Entre o sucesso absoluto e o fracasso total, parece que o Brasil caminha para um cenário de mediocridade, insistindo em medidas paliativas e improvisações.
É o típico “sambarilove” — empurrar a crise até que as circunstâncias externas melhorem ou o caos se torne inevitável. A verdade é que o Brasil não pode ignorar os sinais de alerta que se acumulam. Fuga de capitais, desvalorização do real e juros futuros em alta não são números isolados, mas sintomas de uma crise mais profunda. A crescente demanda por dólares não reflete um ataque especulativo imaginário, mas a reação à falta de credibilidade fiscal.
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Os três poderes precisam conciliar agendas e organizar um esforço conjunto para restaurar expectativas. Caso isso seja feito de maneira séria, os resultados positivos aparecerão rapidamente. Como dizia Delfim Netto, o Brasil flerta com o abismo, mas, na hora H, costuma dar um passo atrás. É o que esperamos para este ano: que o Brasil tenha juízo, dialogue mais e aja com pragmatismo. Que deixemos o autoengano e encaremos os fatos antes que seja tarde. Ainda dá tempo.
Publicado em VEJA de 10 de janeiro de 2025, edição nº 2926
- Política
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