Amanda Sanchez usa blusa, hot pant, bolsa, sapatos e brincos Chanel – Foto: Késsia Riany, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Karine Vilas Boas, beleza por Renata Brazil, direção de arte Ingryd Gomes, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistente de styling Kevin Tertuliano, retouch Gabriella Prata, assistente de foto Gianfranco Vacani e assistente de beleza Carol Melo
Dia: quinta-feira, ainda não “sextou”. Horário: cedo demais para quem voltou de madrugada da festa. Clima: chuvinha londrina. Traje: o cruise 2025 da Chanel. Local: longe da rue Cambon. Anfitriã: Amanda Sanchez, a brésilienne que, há mais de duas décadas, é mannequin de cabine da maison, em Paris. Em tradução livre, é a it-modelo de prova da casa – e veste tudo antes de qualquer look pisar nas passarelas ou ir parar nas boutiques do mundo. Essa, sim, é uma festa exclusiva!
Harper’s Bazaar – Enfim, câmeras desligadas. (risos) Você gosta de ser fotografada?
Amanda Sanchez – Depende. Quando me sinto confortável e gosto da equipe, é mais fácil. Posso me adaptar e trabalhar com todo mundo, mas os momentos de energia especial são raros.
HB – Foi o caso de hoje?
AS – Foi!
HB – Apesar da chuva. (risos) Vi que você tem uma tatuagem no pé. É uma letra ‘B’?
AS – É um ‘L’, na verdade.
HB – ‘L’ de…?
AS – Louis, meu filho. Tatuagem com inicial só pode ser de filho, pai ou mãe.
Vestido, pulseira, colar e brincos Chanel – Foto: Késsia Riany, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Karine Vilas Boas, beleza por Renata Brazil, direção de arte Ingryd Gomes, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistente de styling Kevin Tertuliano, retouch Gabriella Prata, assistente de foto Gianfranco Vacani e assistente de beleza Carol Melo
HB – É sua única tatuagem?
AS – Não, tenho outras.
HB – Vai ser nosso segredo. (risos) Não faz tantas horas assim que nos vimos na festa da Chanel com o MASP… Você toda de verde e eu todo atrasado. Pelo menos, compensei na saída: fui embora quase às três da manhã. E você?
AS – Fiquei até a uma e meia… conheci pessoas incríveis e revi outras que eu amo. Foi difícil ir embora.
HB – Você é muito festeira?
AS – Não, mas já fui muito (risos). Hoje, aprecio programas mais calmos… E tenho a teoria de que, depois da uma da manhã, não se perde mais nada em uma festa. Tudo de interessante já aconteceu antes.
HB – Você comentou uma vez que seu horário de trabalho é das 10h às 18h, uma espécie de rotina “normal” de escritório. O que você faz depois das seis?
AS – Depende do dia. Posso ir tomar um drink, jantar com amigos, bater papo, ficar com meu namorado, assistir a filmes com meu filho…
HB – Animes, fiquei sabendo.
AS – Sim! Compartilhamos uma paixão pela arte japonesa.
HB – E antes das dez, você faz o quê?
AS – Tomo só um café.
HB – Acorda cedo?
AS – Não! Eu amo dormir e sempre saio correndo para o trabalho.
Amanda Sanchez usa blusa, hot pant, bolsa, sapatos e brincos Chanel – Foto: Késsia Riany, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Karine Vilas Boas, beleza por Renata Brazil, direção de arte Ingryd Gomes, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistente de styling Kevin Tertuliano, retouch Gabriella Prata, assistente de foto Gianfranco Vacani e assistente de beleza Carol Melo
HB – Que é puro glamour, aliás. Qual é a parte não glamorosa?
AS – O profissionalismo, a pontualidade, o esforço…
HB – Físico?
AS – Também. Mas me despir do ego faz igualmente parte. Eu, afinal, não sou o centro da Chanel.
HB – Karl Lagerfeld, com quem você conviveu muito, era famoso por trabalhar até tarde, e imagino que você já tenha feito algumas horinhas extras ao lado dele. Nessas noites e madrugadas, você já viu o espírito da Coco Chanel? Dizem que o fantasma dela assombra os ateliês.
AS – Já ouvi falar disso, mas acho que é lenda (risos). Na verdade, também não é uma mentira. O espírito da Chanel é uma presença. Quando desço as escadas espelhadas, quando passo em frente ao apartamento dela… sinto tudo isso, mas não de uma forma fantasmagórica.
HB – E o lagerfeld? Como a morte dele reverberou nos bastidores?
AS – Sei que já faz cinco anos, mas ainda não estou pronta para falar sobre isso.
HB – Em outro assunto, então, você é embaixadora da casa há quase dois anos e passou, para além de modelo, a também frequentar os desfiles como convidada. Aliás, nos conhecemos oficialmente no desfile na Opéra, em junho. Qual é maior diferença entre modelar, desfilar e assistir?
AS – Antes, eu provava todas as coleções e sabia de tudo antes do desfile. Hoje, descubro muita coisa junto com o público. É um sentimento maravilhoso.
Amanda Sanchez usa maiô, cardigã, cintos e bolsa Chanel – Foto: Késsia Riany, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Karine Vilas Boas, beleza por Renata Brazil, direção de arte Ingryd Gomes, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistente de styling Kevin Tertuliano, retouch Gabriella Prata, assistente de foto Gianfranco Vacani e assistente de beleza Carol Melo
HB – Por falar nisso, a maison prometeu anunciar logo seu novo diretor criativo e eu imagino que você saiba bastante em primeira mão…
AS – …
HB – …
AS – Essa é a primeira vez que o posto está aberto e é o sonho de todo diretor artístico trabalhar na Chanel. Estou ansiosa para saber quem vai ser nomeado (risos).
HB – Sei. Você não acha muito difícil guardar segredo?
AS – Não (risos). Confiança é a base da lealdade e, no meu caso com a Chanel, é recíproco.
HB – Alguma outra marca já tentou “roubar” você?
AS – Já, mas faz muito tempo.
HB – Quem?
AS – Não vou falar nunca! Mas as propostas financeiras nunca foram altas o suficiente para me fazer querer sair da Chanel.
HB – Quando você começou a trabalhar, ser modelo de prova ainda era mal visto, cercado de tabu. Por quê?
AS – Quando eu comecei, há mais de vinte anos, as modelos de prova eram do tipo que não trabalhavam muito. Não era uma meta das meninas. Mas isso evoluiu, tanto entre as modelos quanto entre as marcas, que desrespeitaram essas profissionais durante um bom período. Na Chanel, é diferente. Desde a época da Coco, as mannequins de cabine são muito bem tratadas, fazem parte do processo criativo e sempre desfilam!
HB – É fácil imaginar modelos de prova como estátuas congeladas e caladas no meio do ateliê. Você já tomou muitas alfinetadas?
AS – Todo dia! (risos)
HB – Pelo menos, não é uma tesourada na barriga! (risos)
AS – Não! (risos) O bom é que, sempre depois de me alfinetarem, me dão um chocolate ou uma balinha. Já comi muito açúcar, imagine! (risos)
HB – Você falou sobre o esforço físico que é seu trabalho. Considera modelar uma forma de esporte?
AS – Sempre falei que nunca fiz esportes, mas, agora que você disse, acho que sou uma atleta de alta performance! (risos) Mas nunca fiquei horas sem uma pausa.
HB – O que acontece se você não gosta de alguma coisa que está provando? Você fala ou cala-se para sempre?
AS – Ah! Meu papel como modelo de prova e embaixadora é dar vida às roupas de um diretor artístico. Sou uma intermediária e, do momento da criação até o desfile, a minha opinião não importa. Posso achar que não é meu estilo, mas sei que pode ser o modelo preferido de alguém. Dito isso, as costureiras sabem quando eu não gosto de algo… está nos meus olhos! (risos)
HB – O quanto a pressão estética sobre o corpo feminino a afetou ao longo dos anos?
AS – Talvez tenha me afetado um pouco quando eu estava perto dos trinta anos. As modelos que chegavam tinham dezessete, dezoito… A gente se compara, é normal. Mas isso passou rápido, porque entendi que essa diferença era uma força. Hoje, eu assumo as minhas rugas. Elas fazem parte da minha evolução e da mulher que eu sou.
Casaco Chanel – Foto: Késsia Riany, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Karine Vilas Boas, beleza por Renata Brazil, direção de arte Ingryd Gomes, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistente de styling Kevin Tertuliano, retouch Gabriella Prata, assistente de foto Gianfranco Vacani e assistente de beleza Carol Melo
HB – Quando você ficou grávida, não teve medo de não ser chamada de volta para trabalhar?
AS – Não. Na verdade, eu nem imaginava que iria voltar a ser modelo ou que continuaria na Chanel depois de tanto tempo. Fiquei grávida aos 26 e, como não tinha vontade de ser modelo para sempre, imaginei que a rotina dessa vida não iria mais funcionar para mim.
HB – O que você achava que ia fazer depois?
AS – Não sei, mas acho que tudo acontece na hora certa, apesar de não acreditar na sorte.
HB – Coco, por outro lado, era bem supersticiosa. Qual é a maior lição que você aprendeu chez Chanel?
AS – A importância dos detalhes. Um centímetro em um casaco ou uma saia faz toda a diferença!
HB – Deve ser uma tortura para você comprar roupas por aí e ver tantos defeitos. Você é muito consumista?
AS – Já fui. (risos)
HB – Tem moda brasileira no seu armário?
AS – Não muita. Faz realmente bastante tempo que eu não vinha ao Brasil. Mas acompanho de longe, cada vez mais. Quando eu era jovem, a moda daqui era muito voltada para o que acontecia lá fora e, agora, a identidade brasileira está sendo mais acolhida.
HB – Você nunca flertou com a ideia de criar a sua própria marca?
AS – Não, de verdade. Não sou criativa e nem tenho vontade de ser. Gosto de ficar assistindo.
HB – Você saiu de casa ainda adolescente para explorar o mundo. Passou por Barcelona, Nova York, Milão… foi rebeldia?
AS – Nunca me considerei rebelde, mas sempre fui muito curiosa. A minha vontade era de descobrir o mundo, viajar para todos os países… e fui com o apoio total dos meus pais.
HB – Paris, sozinha, é um mundo à parte. Você mora na Rive Droite, a margem direita do Rio Sena conhecida por alguns dos endereços mais luxuosos da cidade. Acha que isso a deixou meio… bon chic bon genre?
AS – Ah! (risos) Eu acho que não. Bon chic bon genre é meio burguesinha, não? Eu não me considero isso. Sou bem mais simples.
HB – Vi uma estátua sua em uma boutique da Chanel na Place Vendôme uma vez. Isso é mais icônico do que simples, não?
AS – Não me considero um ícone.
HB – Nem un petit peu?
AS – Não. Mas aprecio muito o reconhecimento da minha história com a Chanel. Um ícone, para mim, é alguém que não é acessível.
HB – As pessoas reconhecem você na rua?
AS – Acontece.
HB – E você tira foto com elas?
AS – Lógico! Elas contam que me seguem nas redes sociais, que adoram meu estilo… se sentem à vontade para falar comigo. Mesmo nos lugares mais inusitados!
HB – Quais?
AS – Uma ruazinha deserta, um mercado em Guadalupe, na praia, quando estou descabelada e de chinelo… (risos) Acho essa troca muito especial.
HB – Em 2017, você surgiu na passarela da Chanel vestida de robô. Hoje, a tecnologia está em todos os cantos da moda e só se fala em inteligência artificial. Nesse sentido, você foi meio pioneira, não? (risos)
AS – Fui a primeira robô Chanel! (risos)
HB – Se eles de fato dominarem o mundo, vai ser uma grande ironia para você! (risos)
AS – A essência do trabalho humano na alta-costura e no prêt-à-porter nunca vai deixar de existir. O talento é manual, mas também seria uma burrice ignorar a tecnologia. Eu estava com uma cabeça de robô, sim, mas quem fez a roupa foram aquelas mãozinhas.