Casa Fashion A alta costura teatral de Alessandro Michele na Valentino

A alta costura teatral de Alessandro Michele na Valentino

por Guilherme de Beauharnais
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Valentino, alta-costura, primavera-verão 2025, por Alessandro Michele (Foto: Getty Images)

Excêntrico, exagerado, artístico, poético, repetitivo, empoeirado – a lista de adjetivos que descrevem as mais variadas perspectivas sobre Alessandro Michele é longa. Exatamente por isso, talvez, esse tenha sido o assunto central de sua primeira coleção de alta costura para a Valentino: não as opinião públicas, mas a própria ideia das listas. Desesperadamente humanas, elas são uma invenção que cataloga, limita e reduz todo o tipo de infinidade das formas mais objetivas ou subjetivas, mas também tem seu charme para o estilista: elas podem ter narrativas estéticas e, nas palavras do filósofo italiano Umberto Eco, não existem para só para domar o caos, mas para contemplá-lo.

É um reflexão ambígua e vertiginosa: não há lista no universo que tenha tudo sem um único etcetera no final. Michele sabe disso, mas tenta: em 48 looks, criou 48 listas, cada um – e cada uma – com acumulações e sobreposições de cores, materiais, referências, proporções, texturas, etcetera, etcetera, etcetera. O ambiente até foi futurista, com plano de fundo digital para os modelos, mas o diretor criativo não resiste às tentações historicistas. Do lado romano, seu próprio, a teatralidade museológica ganha vida em volumes e cascatas de rendas complexas, que dividem o espaço com paletas de cores vibrantes, uma sobre a outra – e os contrastes vão além.

Há senso de humor no uso de máscaras de luta de livre, típicas dos luchadores mexicanos que fazem dos ringues suas próprias passarelas. Bordadas por todas os cantos, algumas até flertam com a ideia de máscaras de gás, sugerindo tempos menos românticos. O mesmo acontece com as referências circenses, em uma arlequinada de losangos coloridos, patchworks vibrantes, e rufos renascentistas, também próprios das commedia dell’arte, que descem dos pescoços para se tornarem babados em saias e mangas. São esses os bobos luxuosos na corte Michele, tomada pelos barroquismos do século 18, com paniers que expandem as silhuetas cobertas por florais suaves. Outras, são mais espanholas no rigor religioso sóbrio, com pretos da cabeça aos pés que também poderiam vestir qualquer viúva vitoriana vanguardista.

De volta ao repertório de Michele, as plumas longas evocam ares exóticos, bem trabalhados em visuais dignos dos palcos dos Balés Russos, pesadamente orientalistas, ou das obras de Rameau, com suas opéras-dançadas sobre as Índias galantes. Esse tipo de teatralidade é suavizado nos flertes com a androginia, como na combinação de uma saia brilhante um paletó branco bondiano.

Nada é muito diferente do universo estético que Alessandro Michele tornou sinônimo de seu nome e, exatamente por isso, a expectativa sobre sua estreia na alta costura não ia longe de sua consagração no prêt-à-porter. A moral que fica, entretanto, é que o estilista sempre pode ir além – e as cortinas de seu teatro maximalista nunca fecham.

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