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Na última semana, a FDA, agência regulatória americana, revogou a autorização que permitia o uso do corante vermelho número 3, conhecido no Brasil como eritrosina, em alimentos e drogas orais. A decisão não afeta o uso no Brasil, onde o produto segue autorizado pela Anvisa.
A medida foi tomada em resposta a uma petição movida por organizações relacionadas à saúde alimentar que apontam os riscos associados a essa substância. Fabricantes de alimentos terão até janeiro de 2027 para se adequar a nova norma, enquanto as farmacêuticas têm até 2028 para remover a eritrosina das suas fórmulas.
Por que o FDA proibiu a eritrosina?
A nota, a agência afirma que não há estudos comprovando os efeitos negativos em humanos, mas que a revogação ocorre com base em dois trabalhos que apontam que o corante pode causar câncer em ratos. “A Cláusula Delaney […] proíbe que o FDA autorize um aditivo alimentar ou corante se for descoberto que ele induz câncer em humanos ou animais”, diz o documento.
Em 1990, a agência já havia proibido o uso do aditivo em cosméticos e medicamentos de aplicação tópica, mas a ampliação dessa revogação de autorização é uma demanda pública que nunca se arrefeceu. “Pelo menos desde 1970, trabalhos investigam os possíveis danos gerados por esse composto”, explica a nutricionista Camille Perella Coutinho, pesquisadora do Food Research Center, na Universidade de São Paulo. “São muitos anos de pesquisa para conquistar essa proibição.”
Por enquanto, ainda não há trabalhos científicos comprovando efeitos deletérios em humanos, mas uma diversidade de investigações em animais já apontaram para o risco desse corante em interferir na função da tireoide, provocar tumores, alergias e problemas digestivos.
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Por aqui, a permissão continua valendo. “No Brasil, a eritrosina, corante em questão, está permitida para uso em algumas categorias de alimentos e medicamentos”, afirmou a Anvisa em nota a VEJA. “Embora a FDA não mencione a existências de novas evidências e que as evidências conhecidas não levantem preocupação de segurança para consumo humano, a Anvisa estudará as referências científicas da petição apresentada à autoridade americana, motivadora da ação, verificando a existência de justificativa para uma reavaliação.”
A petição ocorre em um contexto de demanda crescente por maior segurança na formulação de alimentos. “Diversos ingredientes estão sob escrutínio, como o dióxido de titânio, usado como branqueador, os conservantes BHA e BHT, além de certos emulsificantes e adoçantes artificiais”, diz o nutricionista Ney Felipe. “A tendência global é de maior rigor nas avaliações, o que pode levar a novas restrições no futuro.”
O que é o corante vermelho n.3?
A eritrosina é um corante alimentar sintético que dá aos alimentos e bebidas uma cor vermelho-cereja brilhante. Ele tem sido usado em alimentos como doces, bolos, cupcakes, biscoitos, sobremesas congeladas, coberturas e glacês, bem como em medicamentos ingeridos.
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Esse corante é derivado do petróleo e ganhou popularidade por ser barato e ter uma forte capacidade de pigmentação. Sua origem sintética ainda garante consistência e estabilidade, o que o fez ganhar espaço na indústria – nos Estados Unidos, um levantamento mostrou que o elemento está em um quarto das coberturas de bolo, 16% dos chicletes, 13% das balas e 11% dos biscoitos.
Esse não é o único corante sintético utilizado na indústria alimentícia, mas o movimento por diminuição do consumo de ultraprocessados têm questionado o uso disseminado desses aditivos. “Alimentos com cores muito vibrantes geralmente são processados ou ultraprocessados”, diz Coutinho. “Independentemente do tipo de corante utilizado, esses produtos devem ser consumidos com moderação.”
Um exemplo do movimento que faz frente a esses corantes é Robert F. Kennedy Jr., ativista antivacina que assumirá a gestão do Departamento de Saúde e Serviços Humanos no governo Trump e que prometeu acabar com aditivos nos alimentos voltados para crianças.
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Apesar do exagero de alguns atores, o movimento é legítimo e, para contorná-lo, há alternativas. “Existem corantes naturais que oferecem uma alternativa mais segura, como as antocianinas, pigmentos naturais encontrados em alimentos como uvas, frutas vermelhas, repolho roxo e até em flores que também oferecem antioxidantes benéficos à saúde”, diz Felipe. Alimentos de cor forte como as beterrabas e a cúrcuma também podem ajudar nisso.
Isso não ocorrerá, contudo, sem dificuldades. De acordo com Felipe, o uso de pigmentos naturais pode vir com desafios como estabilidade, condições de armazenamento e custo de produção. A ver se as cores mais naturais conquistarão mesmo o gosto do público – e da indústria.
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